Jovem baleia-piloto encalha em São Vicente, acendendo alertas sobre a saúde dos oceanos

Hoje, um jovem macho de baleia-piloto, com 3,70 metros de comprimento e aproximadamente 400 kg, foi encontrado encalhado na praia de Lazareto, em São Vicente. Apesar dos esforços imediatos de populares, que tentaram devolver o animal ao mar enquanto ainda estava vivo, infelizmente, ele não resistiu. O veterinário Salvador Mascarenhas, da Clínica MindelVet, diagnosticou a presença de quistos no pulmão e no estômago, sugerindo que a baleia já estava debilitada antes de sua trágica morte. Um episódio que reforça a importância do acompanhamento contínuo dessas espécies, que são fundamentais para o equilíbrio ecológico marinho.

O Instituto do Mar (IMar) recolheu amostras de tecidos para análises aprofundadas, visando entender as causas desse evento e melhorar a monitorização das populações de cetáceos. Vale ressaltar que o IMar, juntamente com os parceiros, tem vindo a realizar estudos de monitorização de cetáceos, investigando possíveis populações residentes e identificando padrões de migração e comportamento desses animais, com vista à promoção da atividade de observação de baleias, enquanto atividade económica-turística de alto valor acrescentado.

A Câmara Municipal de São Vicente comprometeu-se a realizar o enterramento do animal, respeitando todas as normas ambientais, para garantir que o processo seja feito de forma responsável e adequada.

O alerta para a saúde dos oceanos

Este evento não representa apenas uma perda individual, mas também um alerta para a saúde dos nossos oceanos e a biodiversidade que neles reside. Os cetáceos, como a baleia-piloto, regulam as cadeias alimentares e redistribuem nutrientes essenciais nas diferentes camadas do oceano, ajudando a sustentar um ecossistema saudável e vibrante.

Os encalhes de cetáceos, embora ainda envoltos em mistério, são frequentemente causados por uma combinação de fatores. No caso dessa baleia-piloto, a presença de doenças – como os quistos observados – pode ter sido um fator crucial. No entanto, é importante considerar que as espécies enfrentam uma série de ameaças interligadas, que podem desencadear esses eventos trágicos. Entre essas ameaças, destaca-se a poluição sonora, proveniente de atividades humanas, como os sonares navais, que têm sido associados à desorientação, e ao estresse nos animais. O som intenso e constante pode interferir na capacidade dos cetáceos de se comunicarem, se orientarem e localizarem presas, levando-os a desviar de suas rotas habituais e, em alguns casos, a encalharem.

Adicionalmente, alterações no ambiente marinho – como o aumento da temperatura da água e a acidificação dos oceanos – afetam a distribuição das presas, criando desequilíbrios no ecossistema. A presença de toxinas nos oceanos, originadas da poluição industrial e do uso excessivo de plásticos, compromete ainda mais a saúde dos cetáceos, tornando-os vulneráveis a doenças, enfraquecimento imunológico e, por fim, ao encalhe. Além disso, os impactos das epizootias – surtos de doenças infecciosas – podem ser um fator relevante para a morte desses animais. Infecções virais ou bacterianas podem enfraquecer o organismo, tornando-os mais suscetíveis ao encalhe.

O comportamento social das baleias-piloto, que formam grupos familiares coesos, também pode contribuir para o encalhe. Quando um membro do grupo se encontra doente ou ferido, outros podem segui-lo instintivamente, em um gesto de apoio, colocando-se igualmente em risco. Apesar de este caso envolver apenas uma baleia, é comum que cetáceos demonstrem esse comportamento de solidariedade, o que aumenta a complexidade desses eventos.

Para agravar a situação, dois tubarões foram avistados nas proximidades, ilustrando o ciclo trófico implacável que rege os ecossistemas marinhos. Esse fenômeno evidência a interdependência entre as espécies, onde a morte de um organismo pode servir de recurso para outro, destacando o papel vital dos predadores no controle populacional e no equilíbrio ecológico dos oceanos. Contudo, esse equilíbrio natural está sendo cada vez mais ameaçado por ações humanas. A poluição, o aquecimento global e a sobrepesca têm alterado irreversivelmente o ecossistema oceânico, colocando em risco não apenas as baleias e os golfinhos, mas toda a biodiversidade marinha.

Em Cabo Verde, o oceano não é apenas uma extensão de água; ele é parte intrínseca da nossa cultura, história e identidade. Ele tem alimentado e inspirado o povo cabo-verdiano, conectando gerações através de um vínculo profundo. No entanto, a pergunta que se impõe é: o que mais devemos fazer para proteger essa riqueza? Que legado queremos deixar para as gerações futuras? Este evento deve servir como um chamado urgente à ação.

O oceano fala, e seus gigantes nos alertam. Vamos ouvir e agir enquanto ainda podemos, pois, o futuro dos nossos mares depende das decisões que tomamos agora.

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